domingo, 3 de maio de 2009

Clara.



Já o sol estava no alto quando o despertador tocou. Clara calou-o e pôs-se novamente de baixo dos cobertores, já cheios de bolota de tanto já terem sido lavados.

- Clara já se faz tarde, vais perder a camioneta - gritava a mãe de Clara

Clara levantou-se da cama devagarinho ainda com os olhos meios fechados, espreguiçou-se e olhou para o relógio.

- Caramba, já é mais que horas!

Depressa se levantou, pôs os pés no soalho gelado e procurou as pantufas de baixo da cama e correu até ao guarda-fato, puxou as primeiras calças que encontrou, foi até ao armário e pegou na camisa que estava ao de cima, que por ventura era apenas mais uma das suas camisas cor-de-rosa. Correu para o quarto de banho, lavou a cara e enxugou-a e pôs-se a olhar ao espelho. Clara já não era uma menina, mas sim uma bonita jovem.

Desceu as escadas apressadamente, pegou na sandes que a mãe lhe tinha preparado e saiu a correr. Mais um dia monótono esperava-lhe, apenas mais um dia, no meio de outros tantos.

Entrou no autocarro e depressa arranjou lugar sentando-se à janela. Admirava a paisagem por onde passava e pensava no que ia encontrar quando chegasse à escola, a aquele cubículo ao qual chamavam de sala de aula. A sala era a mesma, a cadeira desengonçada na qual se sentava também, tudo continuava na mesma, nada acontecia de novo por lá, tirando claro a matéria e o humor das pessoas ao seu redor.

Sentia-se cansada. Terrivelmente cansada. Cansada de todos os enganos e falsas perspectivas. Farta do Deus a quem lhe suplicava com muito ardor felicidade, nem este lhe respondia, nem lha dava. Ao menos ali, na escola não ouvia o choro da mãe, as portas a baterem brutalmente, as horas contadas, esperadas a olhar para o relógio, contando cada minuto que passava e que o pai não chegava a casa. Ninguém lhe compreendia, ou parecia compreender. Todas as palavras dissimuladas vindas daquelas a quem chamava amigas, não lhe faziam bem algum, pelo contrário, só lhe entristeciam, pois estas só lhes cabiam a teoria, prática tinha a Clara.

Tinha sono, muito sono. Não dormira nada, os gritos dos pais faziam com que esta não conseguisse dormir. Tentava fixar os olhos na pintura que havia na parede, de um tal Monet, artista que andava a estudar em História. Quem lhe dera a ela mergulhar naquele lago, perder-se entre os nenúfares, entre a serenidade e a passividade.

“-Clara então? a dormir na aula?!”

Completamente apanhada, lá Clara tentava remediar a situação, tentando com que a colega do lado lhe desse a resposta à pergunta da professora, que olhava para esta através dos óculos redondos e descaídos no nariz pontiagudo.

E voltava a perder-se na pintura, ao menos assim, mesmo que por breves minutos, trazia-lhe paz ao seu pequeno coração.

sexta-feira, 1 de maio de 2009


Inspirações levou-as o vento...