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Hoje quero-vos mesmo falar é do meu amor pela cozinha, pelo fogão, pela colher de pau, pelos tachos e panelas. É um amor por quem muito se admiram. Gostava tanto, mas tanto, ser Chef. Quem sabe um dia…
Mas queridos leitores, o que quero igualmente dizer-vos é que cozinhar não é para qualquer mãozinha. Talvez o seja, mas não com tanto requinte e paladar. Só se cozinha bem, quando se cozinha com amor – é esta a minha filosofia.
Os especialistas dizem que no amor tudo é uma questão de “química” e, eu, afirmo que com os alimentos também assim é! Quando começamos a misturar os vários ingredientes que escolhemos para preparar um prato, inicia-se de imediato uma reacção “química”, que é a grande responsável pelo seu resultado final. Esta reacção poderá naturalmente resultar melhor ou pior, dependendo dos ingredientes que escolheu para misturar e, principalmente, da forma como o fez. O processo inicia-se no preciso momento em que começa a pensar no prato que vai cozinhar, cresce, no momento em que vai escolher os ingredientes e, fica enorme, no momento em que o cozinha. Se teve muita vontade, muito gosto e muito envolvimento, ou seja, muito amor naquilo que fez, o resultado é, de certeza, o melhor!
O povo oriental dá imensa importância a este fenómeno e inclusive costuma dizer que “com grande facilidade uma mulher mata o marido, basta cozinhar com raiva”. Em contrapartida, o velho ditado português diz que “ os homens ‘conquistam-se’ pelo estômago”
E esse acto de amor é perceptível na cozinha e na sua mesa. Quem não tem na memória aqueles sabores, aromas e “petiscos” da nossa infância, que nos deliciam sempre que nos lembramos deles? O bolo de chocolate da avó, o arroz da madrinha…. Oh! E aquele bacalhau no forno da mãe, que não evita, ainda hoje, o comentário por vezes desagradável: “ah! Mas o bacalhau da minha mãe é muito melhor!”
E porque era melhor? Porque era feito com muito amor, aquele amor que começava logo na escolha do prato a confeccionar, na procura dos alimentos a utilizar, e por aí adiante. Hoje, a famosa falta de tempo e ainda a mais famosa “globalização” , fez-nos perder, na maior parte dos casos, esse amor e esse cuidado, na procura, na escolha e na confecção dos produtos.
Este sentimento estende-se igualmente à restauração. Espero que numa futura qualidade de Chef, terei de afirmar isto. Até porque, qualquer consumidor, mesmo o mais desatento, pode confirmá-lo. Sente sempre a diferença entre um cozinheiro que o é por opção de vida e um cozinheiro que o é por acaso. O segundo age mecanicamente. O primeiro, por sua vez, resolveu fazer da cozinha a sua arte e, por isso, não tem “segredos” nem receitas secretas, mas sim, uma enorme confiança em si e no seu trabalho e, mesmo enquanto profissional, cozinha sempre com muito amor!
E tenho de vos confessar uma coisa: é enorme o prazer que sinto quanto tenho hipótese de cozinhar para os amigos e para as pessoas de quem mais gosto. Isto porque, a seguir, sento me com eles a mesa e, enquanto eles saboreiam as minhas iguarias, eu saboreio-as duplamente: primeiro com as reacções deles, as suas emoções, os seus comentários e o seu agradecimento pelo prazer qe estou a proporcionar-lhes – e, quantas vezes, ao dizerem-no, me soam quase como “declarações de amor” - ; e, segundo, naturalmente, porque também me delicio com as minhas próprias confecções.
A arte de cozinhar depende de vários factores e de muita aprendizagem, que por vezes é até empírica, mas há um “ingrediente” que não pode faltar:
O AMOR PELA ARTE DE COZINHAR!